sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Enfim, consegui assistir a "Se Don Juan Fosse Mulher" (publicado no TRUPE DA TERRA em 10 de Julho de 2007)

Baixei por um programinha p2p um filme que eu tentei assistir no Cine Iporanga por volta de 1973 e nunca consegui, pois era censurado para menores de 18 anos e o porteiro certamente não devia ir com a minha cara.


Trata-se de "Se Don Juan Fosse Mulher", ou simplesmente "Don Juan 73", do fanchonésimo Roger Vadim -- o Walter Hugo Khoury que deu certo, pois conseguia não só comer, como também casar e ter filhos com suas estrelas.

Traz no elenco o grande Maurice Ronet, a belíssima Jane Birkin e, claro, Sua Magestade Brigitte Bardot, já com quase 40 anos e dando um belo caldo.

Confesso que estava até com medo de ver o filme, de tanto que fantasiei nas fotos que ficavam expostas na entrada do velho Iporanga, com Bardot e Birkin nuas numa cama redonda gigantesca. Se tem uma imagem que não saiu da minha cabeça um dia sequer ao longo da minha adolescência, foi essa. Só de pensar que o original daquela cena não era estático como na foto na entrada do cinema, já era o suficiente para deixar a minha libido completamente descontrolada.

E, para o meu desespero, nunca passaram "Se Don Juan Fosse Mulher" em cineclubes, nunca lançaram em VHS, nem em DVD, e nunca o vi escalado na programação de nenhum canal a cabo -- nem no Eurochannel, e nem na TV5.



Então, esta noite, após todos esses anos, abri uma garrafa de vinho, cortei umas lascas de parmesão e finalmente pus o filme para rodar (em avi) no Quicktime.

Como eu já esperava, não tinha legendas, estava no original em francês. Um francês bem civilizado -- nada a ver com essa língua estranha que se fala hoje nos arredores de Paris, onde carros pegam fogo, e pessoas às vezes até explodem.

E então: surpresa. Surge em off uma voz de homem, falando em polonês, traduzindo (para o polonês) todas as falas do filme, em "voice over", como se fosse um documentário da TV Cultura, da série PLANETA TERRA. Um absurdo. Presumo que não deva existir dublagem nem legendagem na Polônia. Acho que nem mesmo em Portugal alguém seria capaz de cometer algo tão exdrúxulo assim. E o pior é que como a voz em polonês estava mixada bem mais alto que a banda original do filme, o máximo que eu conseguia ouvir, e entender, era o início dos diálogos dos personagens do filme, que logo em seguida eram atropelados pelo polaco inconveniente.

Pensei em ficar aborrecido. Mas confesso que não consegui. E vi o filme até o final com muito prazer. E adorei as tomadas de cena chiquérrimas e pretensamente existencialistas de Monsieur Vadim. E, claro, finalmente pude ver as tais cenas de Bardot e Birkin nuas na cama, agora em movimento.

E, com isso, sinto que um ciclo se fechou na minha vida. De alguma maneira, valeu esperar todos esses anos para poder ver essas duas Forças da Natureza se enroscando diante das câmeras classudas e pervertidas de Roger Vadim, talvez o maior "ladies' man" do Século XX.

O, Lucky Man!

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